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Aprendi a meditar ainda criança. Minha Mãe me ensinou Ela praticou yoga por mais de 50 anos.

Naquela época não tinha ideia dos benefícios. O desejo era de imitar a Mãe. Desde então a meditação vem e vai da minha vida.

Recorria a ela somente nos momentos mais críticos. Não fazia a prevenção. De uns tempos para cá, após um curso em Bioenergética, a frequência foi aumentando. Atualmente medito todos os dias. Vario entre 5 minutos e meia hora, depende da disponibilidade. Quando estou mais cansada ou estressada, uso a meditação guiada. Mas normalmente coloco algum som de natureza, fone de ouvido e faço sozinha. Uso a meditação plena, também chamada de mindfulness. Não gosto deste nome porque ele ressurgiu forte com a indústria do wellness e confunde um pouco. O simples precisa ser simples e prático.

Os treinamentos que ministro são da área de humanas (comunicação, comportamento e psicologia organizacional), muito ligados a emoções. Aos poucos, de acordo com o tema, fui inserindo exercícios de meditação com excelentes resultados. O que me motivou a fazer podcasts para compartilhar o bem estar corporativo.

A meditação corporativa não é associada a religião, embora individualmente cada pessoa possa realizar a sua associação espiritual individual, ou não. A minha associação é com a natureza.

A vida mais hiper conectada trouxe consequências. Gerou mais estresse, ansiedade, distrações provocando mais desgastes e acidentes de trabalho por falta de foco. Não à toa, a própria indústria de tecnologia, no Vale do Silício, reeditou a meditação. Porém com o caráter corporativo. Para minimizar os problemas contemporâneos gerados pela aceleração da vida conectada, como ansiedade, depressão e estresse.

Existe um certo preconceito com a meditação corporativa. Alguns administradores ou praticantes mais tradicionais alegam que o objetivo dela é somente em virtude da produtividade e que trai um dos objetivos primários da meditação: olhar para dentro de si mesmo, o autoconhecimento. Por outro lado, qual é um dos principais objetivos das empresas? Não é lucrar? E lucrar gerando benefícios para os colaboradores é problema? Não, é solução, uma vez que defende interesses comuns e ninguém engana ninguém.

Planos de saúde recomendam com frequência a prática da meditação em seus materiais de divulgação.1 Com mais saúde física as pessoas gastam menos com médicos e as empresas lucram mais. Mesmo sendo uma tática, não existe problema se há vantagens para todos os envolvidos.

Os benefícios da meditação corporativa, apesar de perceptíveis, são intangíveis. Por isso há maior dificuldade em aprovar treinamentos exclusivos de meditação, uma vez que as organizações desejam conhecer o retorno antes de fazer o investimento. Porém, algumas grandes empresas têm até um local específico para prática. Vale destacar que não se trata de modismo, e sim de uma prática em crescimento. As organizações também têm dificuldade em visualizar um colaborador parado, esquecendo-se que menos é mais. Porém se a influência vem do topo da pirâmide, a tendência é de maior aceitação e crescimento.

A ciência já demonstrou que a prática altera efetivamente o funcionamento do organismo. O neurocientista americano Richard Davidson, referência mundial na área e pesquisador da Universidade de Wisconsin-Madison, colocou monges tibetanos em máquinas de ressonância magnética e provou que o córtex pré-frontal, região do cérebro responsável pelo raciocínio, atenção e controle das emoções, era mais ativa nos monges.2

 

A lista dos benefícios é grande, tanto para o colaborador quanto para empresa. Como um depende do outro, os dois ganham. A meditação corporativa reduz estresse, ansiedade, ausências no trabalho, níveis de depressão, medos e incertezas. Melhora sensivelmente o foco, atenção, concentração, produtividade, empatia, resiliência, energia, criatividade, memória, organização, rapidez nas decisões e fundamentalmente o autoconhecimento, um dos pilares da inteligência emocional. Vale dizer que um profissional autônomo em home office também se beneficia muito com a meditação. O indivíduo que atua só, não tem divide suas incertezas, precisa de melhor qualidade na concentração.

 

Um estudo da bióloga Elisa Kozasa, pesquisadora do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein, em São Paulo, mostra como isso acontece no cérebro. Ela pediu que 20 praticantes de meditação e 19 não praticantes realizassem uma tarefa que exigia concentração, enquanto eram submetidos a uma ressonância magnética. O cérebro de quem meditava recrutava menos áreas para fazer a tarefa. “O cérebro de quem medita é mais eficiente para se concentrar”, afirma Elisa.3

 

O próprio exame de ressonância magnética gera incômodo para muitas pessoas. Por ser estabanada, conheço bem este exame. Meu recorde foi um pouco mais de 4 horas fazendo ressonância magnética nos braços e nas mãos. Como sempre faço nestas situações, meditei. Além da tranquilidade e serenidade, apesar de estar consciente por todo período, perdi a noção do tempo. Pensei que o exame havia durado apenas uns 40 minutos. Fiquei muito surpresa com o resultado desta meditação. Certamente tenho outras comprovações pessoais incríveis, mas o objetivo aqui é um artigo e não um livro.

Uma das maiores vantagens de uma vida mais equilibrada emocionalmente é que ela fortalece o sistema imunológico que reflete na saúde física, reduzindo índices de infarto, AVC, hipertensão, dor, entre outros.4 Promove uma longevidade de melhor qualidade. Meditação é musculação do cérebro, é neurociência.

Quem pratica meditação é motivado a continuar por reconhecer os próprios resultados. Por isso é importante experimentar e insistir um pouco, para formar sua própria opinião. A leitura sobre o assunto é necessária, mas a experimentação permite avaliação. Pessoalmente acredito que meditação deveria ser uma disciplina escolar. Em 2019 o governo da Inglaterra inseriu a meditação plena na grade curricular em 370 escolas do país.5 Se iniciada na infância, todos poderão se beneficiar dos resultados da meditação ao longo da vida. Uma vida melhor.

Espero ter te convencido a meditar. Que tal experimentar e opinar?

 

Denise Monteiro

SP Janeiro/2021